Não reavivar a polémica, mas lutar contra a censura: é a abordagem que desenvolve o
CRIIGEN (Comité de Pesquisa e Informação Independente sobre Engenharia Genética), que inclui o Professor Séralini, na altura em que ele republique o dito estudo, que foi inicialmente publicado no final de 2012. Mas, depois de dois anos de batalha, a republicação na revista Environmental Science Europa tem as cores da vitória e um gosto de vingança.
Recorde-se da história excepcional de um importante estudo que foi sujeito a censura científica como nunca tínhamos visto antes.
Em novembro de 2012, Gilles-Eric Séralini e a sua equipe publicou na revista Food and Chemical Toxicology (FCT) um estudo de dois anos, analisando o efeito da alimentação dum milho OGM num grupo de animais, estudo esse que provocou controvérsia imediata quanto à sua validade científica. Ele concluia na toxicidade a longo prazo do pesticida Roundup e do milho OGM NK603 pesticida milho em ratos. A pesquisa é sem precedentes, tanto quanto à sua duração de experimentação que pela sua magnitude, tendo sido observados variados parâmetros.
A sua publicação, impulsionado pela intensa operação mediática tem um enorme eco. Mas dois dias depois, outros cientistas vêem criticar fortemente e, pouco depois, as autoridades de saúde francesas e europeias rejeitam as conclusões, dizendo que as conclusões não são suficientemente sólidas.
Secretamente, o lobbie pró-OGM organiza a contra-ofensiva. Um ex-funcionário da Monsanto (que comercializa o Roundup e o milho NK603), Richard Goodman, entre o comitê científico da FCT. No final de novembro de 2013, a revista anunciou a retirada unilateral do artigo. Séralini não admitiu a derrota: depois de vários meses ele ganha o direito de resposta, e obtem o apoio do Committee on publication ethics, que considera a retirada injustificada. Cientistas de todo o mundo assinaram uma carta aberta na qual denunciam a "censura" que impede o avanço das pesquisas. Finalmente, hoje, terça-feira 24 de junho de 2014, o estudo é republicado noutra revista cientifica.
O que há de novo?
No papel, nada de novo: nenhuma investigação adicional ou informações exclusivas. O estudo foi simplesmente reescrito para destacar os efeitos do Roundup, em vez dos OGM. Um esclarecimento importante. Porque a controvérsia surgiu da ligação supostamente estabelecida pelos pesquisadores entre OGM e cancro - enquanto Gilles-Eric Séralini aponta que a palavra "cancro" não estava escrita no texto do artigo.
Sim, os resultados mostram um aumento nos tumores em ratos que consomem milho OGM, mas um tumor não é cancro! O pesticida é responsável por deficiências nos rins e fígado, bem como uma desregulação hormonal.
Efeitos similares foram também observados durante o consumo regular de milho NK603, tolerante ao Roundup. Tóxico portanto, mas não cancerígeno. A diferença é grande, mas negligenciada pela cobertura mediática, e explorada pelos críticos de Séralini.
Outra novidade: o estudo está agora disponível gratuitamente, sendo publicado numa revista científica em "open source". O objetivo aqui é que todos possam ter acesso diretamente ao texto, para tirar as suas próprias conclusões dos resultados. Um facto importante para os leitores científicos, são os dados em bruto, que também estão disponíveis.
Porque uma republicação?
"O progresso científico requer debate e controvérsia para melhorar os seus métodos com base em resultados objetivos", diz o editor da revista. "Permitir uma discussão racional" é o objectivo anunciado pela equipa de Séralini. Porque um estudo não publicado não tem valor científico. Sendo impossível de discutir o seu valor ou de aprofundá-lo através de novas pesquisas.
Por exemplo, o estudo pode agora ser citado na avaliação de risco dos OGM e do Roundup. Em fevereiro, o milho OGM TC1507 foi autorizado pela Comissão Europeia. Entre as razões apresentadas, a ausência de estudos demonstrando a toxicidade do produto. O estudo Séralini estava na altura relegado ao limbo do conhecimento científico.
Outra alegação: a promoção da transparência. "A escolha do open source não é trivial", diz o CRIIGEN. "Precisamos que todos os dados brutos, incluindo os da indústria, estejam em acesso livre." Isto porque a Monsanto e Pioneer não querem divulgar os pormenores da investigação de apoio à autorização de comercializar os seus produtos. O chamado "Segredo comercial".
Embora a revista onde é republicado o estudo ser pouco conhecida, porque bastante recente, ela tem a vantagem de estar disponível na internet.
Mas as críticas já se fazem ouvir: porque uma revista tão pouco instalada entre os pesquisadores? Será que isso não confirma a natureza dúbia da pesquisa? Só que a publicação pertence ao grupo Springer, a maior editora de pesquisas científicas, e principal concorrente do grupo Elsevier, proprietário da .... Food and Chemical Toxicology.
Vingança pessoal?
A republicação também soa como uma afronta aos muitos críticos do Séralini. Ele acabou de publicar um comentário sem inequívocos intitulado: "Conflitos de Interesses, confidencialidade e confiança na avaliação dos riscos para a saúde"
Carta de amor endereçada a Paul Christou(entre outras personalidades...), pesquisador em biologia vegetal, altamente crítico chegando a ser injurioso para com Séralini. "Também está ligado à Monsanto. Ele é o inventor declarado de várias patentes de culturas geneticamente modificadas, que a Monsanto, em sua maior parte, detém os direitos de propriedade ", escreveu o pesquisador no seu artigo.
Se o estudo não é perfeito nem impecável, a quantidade de críticas que ele sofreu são desproporcionadas. Porque as principais críticas, ou seja, tamanho muito pequeno da amostra e raça dos ratos, conhecido por ser suscetível a tumores, podem ser enviadas para outra pesquisa similar. Assim, um estudo encomendado pela Monsanto, usando a mesma raça e do mesmo número de roedores, mas que cobre apenas três meses, também foi publicado na revista Food and Chemical Toxicology sem que a comunidade científica se comova.
Video sobre o estudo em português